Ao refletir sobre o silêncio, me deparo, novamente, com a cultura. Aprendi que o silêncio é para os fracos, para aqueles que temem o outro de alguma forma. O calar-se é visto no mínimo como consentimento. Gente guerreira é aquela que fala, que expões suas ideias, que tenta convencer um coletivo ou esclarecer alguma injustiça... Vivemos repetições. Repetições tendo como referência: divindades, heróis e personagens – esquecemo-nos de como sofreram, só lembramo-nos do exemplo de seus feitos. E assim, valores de luta são passados de pais para filhos como ideal de fraco e forte. Afinal, fraco é aquele que chora. Ao forte resta engolir o choro e expor as infâmias.
Com as vivências nota-se o equívoco. Afinal, quando falo, falo para quem e para quê? Alguém me perguntou? O problema é realmente meu? O ouvinte é alguém que gostaria de melhorar como ser humano? Você confia no ouvinte? O que você fala são coisas produtivas?
O silêncio é uma linguagem e não um consentimento, o silêncio é o “não dito”, é o posicionamento daquele que percebe que deve estar fora de quaisquer teorias superficiais que só vem a polemizar e só expor aquele que opina. Catarses são ótimas! Porém, há lugares, momentos e pessoas para tal feito: livros, textos, amigos, analistas, médicos... E não ambientes e pessoas que querem que você se exponha para ele, que querem te ver na berlinda, de uma luta que nem sempre é sua. Assim, a fala fica sem escuta e no fim é você quem será lembrando por tirar a todos da zona de conforto – eles não queriam sair de lá! O sofrimento é um gozo e tem gente que gosta de estar rodeado de pessoas bajuladoras e falsas. Se ninguém sugerir uma mudança, não a imponha! Se ninguém pedir sua opinião, não a dê! A fala pode se tornar um multiplicador de injustiças. O silêncio é aceitar as situações fechadas e imutáveis.
A vida é um desafio diário e devemos entender que o silêncio é para os fortes e um ato de coragem - e não o contrário. A luta deve ser de crescimento - porém de si mesmo e não de quem não deseja. E se alguém achar que você consentiu porque se calou ou que você é fraco porque se absteve, entenda que isto é só um estereótipo e uma frustração do outro – que não pertence a você que está tranquilo e convicto de suas atitudes éticas enquanto pessoa e profissional.
Ser uma pessoa guerreira é ter forças para mudar-se de uma situação ruim ou então entender que deve permanecer e dar o melhor de si – sem apontar para quem não tem a mesma capacidade – e entender que incompetência é algo individual e não um problema a ser resolvido por você. E se no meio do processo você tiver que chorar, chore! Chorar não é sinônimo de fraqueza, o choro é estar compatível com a situação que vive, é ser autêntico com o sentimento, é um pegar-de-fôlego para a mudança que grita dentro de você, é um pedacinho de recomeço... Ser guerreiro é saber a hora de falar, com quem falar e o porquê falar. A luta tem a ver com a atitude e não com palavras que nos expõe desnecessariamente. Valorize o silêncio, ele realmente vale ouro!
Daniella Salgado Caldeira Gomes,
Psicanalista em formação, professora e enfermeira.